EDUCAÇÃO DO CAMPO E POLÍTICAS PÚBLICAS PARA ALÉM DO CAPITAL: HEGEMONIAS EM DISPUTA . Autor: Claudomiro godoy do Nascimento
EDUCAÇÃO DO CAMPO E POLÍTICAS PÚBLICAS PARA ALÉM
DO CAPITAL: HEGEMONIAS EM DISPUTA
CLAUDEMIRO GODOY DO NASCIMENTO
RESUMO
A pesquisa buscou desenvolver uma reflexão acerca da Educação do Campo no Brasil,
bem como o papel das políticas ditas “públicas” a partir dos desafios históricos no qual
vivemos. Não tivemos a preocupação escolástica de partir do todo às partes, pelo
contrário, partimos do todo às partes para novamente retornar ao todo. Por isso mesmo a
preocupação maior foi tentar desvendar o significado daquilo que se entende pela
categoria “educação” enquanto essência da humanidade e do processo de humanização
do próprio homem. A educação que humaniza a partir do saber comunitário e que, ao
institucionalizar-se, torna-se utilitarista. Contudo, para entendermos a educação do
campo enquanto tópico específico da educação brasileira, em especial, a partir dos anos
1990, consolidando nestes primeiros anos do século XXI, tornou-se necessário investigar
sua essência que surge da luta dos movimentos sociais pela reforma agrária e pela terra.
Lutas que evidenciaram o antagonismo existente na estrutura agrária brasileira que se
esconde atrás de práticas patrimonialistas o que permitiu a geração de conflitos políticos
e ideológicos entre o latifúndio e os pobres no campo. Assim, buscamos evidenciar este
conflito a partir de dois agentes coletivos, a saber: o MST e a CPT. Suas ações tiveram
seu auge nos anos de 1970 e 1980 e possibilitou o surgimento de um fenômeno nada
comum, a aproximação entre marxistas e cristãos, em especial, a partir da Teologia da
Libertação. É nesta conjuntura histórica que surge a luta pela educação básica do campo
enquanto conceito que se diferencia da conhecida educação rural. Os movimentos
sociais do campo assumiram a luta por novas demandas, dentre elas, a educação. Dessa
forma, conseguiram realizar duas Conferências Nacionais Por Uma Educação Básica do
Campo, em 1998 e 2004, respectivamente. A partir dessas Conferências, a educação do
campo foi sendo aos poucos institucionalizada pelos marcos regulatórios do Estado,
principalmente, a partir da promulgação jurídica da educação do campo na legislação
educacional brasileira, bem como, com a implementação de programas e projetos,
intitulados de políticas “públicas”. No entanto, buscamos desvendar questões teóricas e
ideológicas ocultas neste processo de interação entre sociedade civil/Estado na
formulação, implementação e execução das ditas políticas “públicas” que não deixaram
de ser paliativas e compensatórias o que revelou sua enorme fragilidade enquanto
processo que se entendia como contra-hegemônico e emancipatório. Por sua vez, as
contradições dessa relação revelam os elementos de “cooptação” realizado pelo Estado
aos movimentos sociais do campo, em especial, seus dirigentes. Por isso, realizamos 07
entrevistas e aplicamos um questionário estruturado e objetivo a 38 pesquisadores aos
quais denomino de “pesquisadores da educação do campo” o que nos revelou, assim
como nas contradições da questão agrária, as hegemonias em disputa que encontram
sua explicação na própria sociedade capitalista, ou seja, os anacronismos existentes na
educação do campo são produto do modo de produção capitalista existente. Assim, se a
lógica do capital permeia o imaginário dos pesquisadores e dos agentes coletivos da
educação do campo significa que a educação do campo enquanto prática alternativa
contra-hegemônica, conforme seu próprio sentido de existência, é chamada a preocuparse
com a luta contra o capitalismo devastador que promove a barbárie. Neste sentido, por
fim, buscamos entender as contradições ocultas da educação do campo a partir do fardo
histórico que carregamos enquanto humanidade que é, exatamente, viver numa
sociedade capitalista onde o que realmente importa é o ato de consumir. Por isso
mesmo, a educação do campo em seu sentido mais sublime surgiu como alternativa
contra-hegemônica ao estabelecido em busca da emancipação humana e a partir dessa
relação com o Estado tende a perpetuar a lógica do capital.
Palavras-chave: educação, educação do campo, políticas públicas, políticas
educacionais, hegemonia, capitalismo.
Click aqui
Comentários
Postar um comentário