Territórios e projetos em disputa na institucionalização dos cursos de licenciatura em educação do campo
Heloisa Vitória de Castro Paula
Resumo
As reflexões sobre a Educação do Campo não podem se apartar do contexto social da luta pela terra. Nesse sentido, a Educação do Campo se constitui para além da prática pedagógica, ao passo que se territorializa em busca de romper as cercas do latifúndio, do capital e da ignorância. Ela emerge dentro do Movimento dos trabalhadores rurais sem terra (MST) e transcende os anseios do movimento de uma educação para assentados e acampados. Ao reconhecer que a luta não era somente dos sem terra, outros sujeitos agregaram força para garantir educação pública para o campo. O direito à escola se amplia para a luta por uma educação para os povos do campo que contemplasse os saberes e fazeres próprios desses sujeitos. A Educação do Campo pode ser vista como um território em constante disputa, haja vista que há um processo de desterritorialização da mesma. Nesta perspectiva, propusemo-nos a compreender se ao passo que a proposta de Educação do Campo se institucionaliza e amplia sua oferta para além da militância dos movimentos sociais foi possível manter a essência em que foi gestada. Foram considerados os campos simbólico, material e político, que abarcam a cultura, a terra, o território e a luta na Educação do Campo. O desafio esteve em pensar epistemológica e empiricamente o reflexo da institucionalização da Educação do Campo, considerando que este processo trouxe novas práticas que consequentemente apresentaram novas perspectivas e novas relações com as premissas e a essência da Educação do Campo, gestadas pelos movimentos sociais de forma orgânica. Para tanto, foi imprescindível buscar a compreensão de como os cursos de Licenciatura em Educação do Campo articulam as Experiências Sociais constituídas na Terra e no Território na construção de suas matrizes curriculares a partir das matrizes formativas da Educação do Campo para que pudéssemos apontar as possibilidades de territorialização ou re-territorialização desta dentro das IES. A pesquisa foi delineada por meio da pesquisa teórica e documental. Foram consultados livros clássicos e contemporâneos, artigos científicos, teses e dissertações, além de teóricos relevantes na discussão sobre Território, Conhecimento e Educação do Campo. A pesquisa documental se propôs a analisar os Boletins e Cadernos Temáticos do Setor de Educação do MST e da Via Campesina, os Projetos Pedagógicos de Curso (PPC) dos cursos de Licenciatura em Educação do Campo e demais documentos articulados à Educação do Campo dentro dos movimentos sociais de luta pela terra. As análises realizadas nos levam a reconhecer a Licenciatura em Educação do Campo como o mais importante território da Educação do Campo, que, por sua vez, apresenta-se como um território em constante disputa. A resistência de um projeto de educação que nasce no Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, mas rompe os limites do movimento, materializa-se na construção de projetos pedagógicos que não se descolam da matriz formadora da Educação do Campo, mesmo que, por vezes, não se reconheça dentro da Pedagogia do Movimento. A institucionalização foi um fortalecedor deste processo, ao passo que as instituições não são homogêneas e têm características próprias, envoltas por currículos ocultos que irão se apropriar da Educação do Campo, sem dela tirar toda essência.
Palavras-Chave: Educação do Campo. Território. Formação de Professores. Política Pública
Para ler na integra click no link:http://www.lagea.ig.ufu.br/biblioteca/teses/heloisa_vitoria_de_castro_paula.pdf
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